Todo batizado é um consagrado, membro de um povo santo, apartado do mundo meramente profano e situado dentro dos limites de total pertença a Deus. Consciente de tal realidade, o monge adota um estado de vida, em que lhe são facultados os meios favoráveis ao crescimento da graça batismal. E mediante sua profissão, essa consagração batismal pode ser expressa e realizada de forma intensa. Mas o que realmente distingue o monge dos demais cristãos, é que ele adotou um gênero de vida, estável e oficial, em que tudo se encontra organizado em vista a esta única meta: sua salvação.
A vida monástica é uma vida religiosa, dirigida conforme as antigas Tradições da Igreja, construída em suas estruturas fundamentais de acordo com as bases recebidas entre os séculos IV e XII. É precisamente a partir da idade patrística que nasceu seu valor permanente e outrossim consideradas na Igreja os escritos doutrinais dos Padres quais "fontes" sempre vivas, visto darem a conhecer uma concepção da vida que permanece viva na Igreja de todos os tempos.
Convém ressaltar que na tradição monástica, os termos "vida ativa" e "vida contemplativa" não representam dois estados de vida diferentes. Mas vem a significar dois aspectos da vida espiritual.
A vida ativa define-se mediante a prática da ascese, bem como o exercício das virtudes, sobretudo da caridade fraterna, ao passo que a vida contemplativa se vê eficaz pela íntima união com Deus, experiência de Sua presença no mais profundo de nossa alma, presença que geralmente se vê precedida e preparada por um generoso esforço ascético.
Por essa razão, ambas não podem ser separadas da vida monástica, uma vez ser a vida do monge ativa, ao levar em si o exercício das virtudes evangélicas e do mútuo serviço entre os irmãos e contemplativa promovendo uma vida de profunda união com Deus, união essa que envolverá toda a existência em uma atmosfera de piedosa oração, identificando-se concretamente com a perfeição da caridade teologal.
Todavia, a vida solitária é o distintivo do monge em relação aos ascetas que viviam no seio da comunidade cristã durante os três primeiros séculos.
No final do século III, a retirada de alguns desses ascetas para o deserto deu origem à vida monástica, o que causou a necessidade de ser estabelecida a diferença dessa vida de solidão vivida individualmente - anacoretismo, com as variantes de recluso e monge peregrino - ou coletivamente - cenobitismo. Assim, a vida cenobítica encontra-se ordenada à perfeição da vida "ativa", ao passo que a vida eremítica, ao pleno desenvolvimento da vida "contemplativa".
Os antigos monges recorriam ao uso de imagens - antes de empregarem o recurso a noções abstratas - que encerravam em si uma teologia da vida monástica.
A vida angélica: A vida monástica fora denominada "vida angélica" pela antiguidade cristã, pelo fato de favorecer o desprendimento do mundo presente e a pertença do monge ao mundo vindouro, a cidade dos anjos e dos santos, sendo a castidade, a pobreza e a sobriedade de vida do monge sinal da preferência que ele concede as realidades escatológicas e fruto da vida nova derramada em seu coração por ação do Espírito Santo; tanto a oração litúrgica quanto a contemplação interior são uma participação na liturgia da Jerusalém celeste.
A vida profética: Além da "vida angélica", o monge leva igualmente, em certo sentido, uma "vida profética", graças ao poder do Espírito que vive nele e à vivência num estado de vida que antecipa a condição escatológica da humanidade. Os antigos viam de bom grado os profetas do Antigo Testamento, mormente Elias e São João Batista, modelos e prefigurações da vida monástica.
A vida apostólica: Os monges antigos, com o intuito de justificar o seu gênero de vida, buscavam com reverência a "vida apostólica", a vida comum, descrita nos Atos dos Apóstolos (2,42-47), qual sinal da chegada dos tempos escatológicos e as primícias da união íntima final de todos os filhos de Deus na Cidade Celeste.
O martírio: Os três primeiros séculos da era cristã foram caracterizados pela perseguição impiedosa aos cristãos, sendo o martírio para esses o grau mais elevado de perfeição a que podia aspirar um discípulo de Cristo, desejoso de trilhas as pegadas de seu Mestre até as últimas consequências. Partindo da visão de que a palavra mártir significa “testemunha”, ele possui e vive a experiência da força do Cristo ressuscitado nele triunfante, concedendo-lhe testemunhar o amor de Deus "mais forte que a morte" (Ct 8,6).
Transcorrido tal período de perseguições, surgem os monges quais sucessores dos mártires, revivendo a Paixão de Cristo, enfocada sob o aspecto de obra de amor, bem como de combate contra o demônio. Tal como foi considerado o martírio “um segundo batismo” (uma radicalização do batismo), uma vez se realizar nele plenamente a configuração com a morte e ressurreição com Cristo Jesus, sacramentalmente inaugurada no batismo, igualmente a vida monástica, em sua totalidade, desfrutou desse mesmo título, mediante o qual o monge se esforçava por realizar livre e pessoalmente o mistério sacramental. Não foi senão muito posteriormente quando tal tema foi aplicado ao ato da profissão monástica.
À luz de tudo o que já fora anteriormente expresso, podemos ver que a Igreja volve suas origens na Ordem Monástica. Dentro do monacato, a Igreja se reconhece novamente como Igreja dos Apóstolos, dos Mártires, assim como dos Padres, manifestando igualmente nele, de modo mais tangível que em outra parte, seu caráter escatológico. Porém, dentro da Igreja, a vida monástica não é um ministério nem uma tarefa particular, uma vez não se fundamentar sobre um sacramento concreto, tal como sucede com o estado presbiteral e matrominial, pois o que possui de específico a situa, não na ordem dos sinais sacramentais, senão no das realidades da graça significadas pelos sacramentos. Assim, a vida monástica é simplesmente o lugar onde tudo se encontra organizado, a fim de que os meios de santificação, cujo depósito recebeu a Igreja, produzam todos os frutos da vida do Espírito. É por essa razão que o monaquismo se situa deveras no coração da Igreja. A instituição monástica representa a forma de vida que a Igreja, mestra de perfeição, propõe ao homem que já não deseja viver senão para desenvolver plenamente em si, mediante o manejo acertado de seu livre consentimento, os germes da graça, depositados em seu coração pela proclamação da Palavra de Deus e celebração dos mistérios no culto litúrgico.
Tal como qualquer alma vinculada a Deus, o monge desfruta de um poder de intercessão muito poderoso qual sacerdócio espiritual. Todavia, tanto o monge santo quanto o mosteiro em que vive exercem, mediante a irradiação da beleza espiritual que deles flui, poderoso atrativo sobre as almas, contribuindo assim para introduzi-las no mistério do Reino de Deus, cuja presença secreta sobre nossa terra eles manifestam.